Comove é a forma-mundo de uma grande metrópole mundial que não se sacia dos seus próprios produtos e sujeitos. Uma Tóquio cheia de grandes miragens apoteóticas na medida da sua liminar fragilidade. A anestesia pela hiperestesia, pela habituação. A menina não sabe bem o que faz. O ator sabe que é infeliz. E a indústria cultural a girar suas roldanas nas avenidas furta-cor. No meio de tudo, alguns mosteiros budistas. No meio de tudo, um grande lugar no qual todos padecem da fraqueza de competência para suportar tanto. Tanto volume.

Perdi a conta de quantas vezes assisti Lost In Translation . Mas, a cada vez a submersão é completa. Nada de mim fica fora dessa água; sou ali integralmente contemplada não apenas nos personagens como nos cenários, nos contrastes do Japão de um oriente vazio e entupido. E é essa atmosfera liquidada na hiperexcitação que faz abrir um vazio interdito. Produz em mim esse filme um milhão de pensamentos disjuntivos, não organizo todos e nem importaria. O que mais me produz é essa forma intervalada de jogar os olhos às coisas no instante subsequente ao filme. Ele me detém por semanas a fio, na postura de me pôr muda ante os outros como se eu estivesse enlutada pelo excesso da vida que ele me alagou. Faz manter meu silêncio desgovernado, como: 'desculpa, agora não posso, há coisas demais aqui e meu silêncio está precisando de mim'.


[Amor da cumplicidade pressuposta, era esse. Amor da cumplicidade de supor as mesmas planícies baldias da existência, haja gozos das ordens outras. Amor é uma coisa assim muito frater, muito irmã. É Aquele lugar pra onde a gente vai confirmar que está tudo bem, por mais ignoto e impossível que mundo, Tóquio, Porto Alegre estejam].

Comentários

Postagens mais visitadas