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Camadas dérmicas, coceiras, vias respiratórias, dois pulmões, o arrepio, a fome, a fadiga, os fluidos, um baço, fora o resto – como há coisas dentro da gente. Um sistema nervoso crepitando. Insinua querer viver, porque deseja ser usado à exaustão. E o quadrado dos óculos indica a sinaleira, a derme reclama a coceira da manga sintética. A marcha involuntária das pernas, que cravam o solado no concreto; a buzina do automóvel retumbante; é preciso chegar velozmente, pensa o motorista - e não posso maldizê-lo: minha coceira também é impaciente. O vento cumprimenta meus cabelos. Nessa ordem, a coceira coça; o automóvel buzina, o cabelo saudado, voa. E a perna pisa. O sol ameaça se exibir. Fala-se vagamente sobre a temperatura. Alguns compram pães, outros verduras. Chás de macela; cravo da índia. Alguns compram promessas de vida pro coração. E ainda outros aguardam consultas, avolumam igrejas, percutem comícios da fé, pedem receitas a Deus. Mas dizem, deus tá no baço, nos músculos, na verdura, no quadro que faz o olho por detrás da lente e, até na fadiga. Tantas são as coisas num só tempo, só.

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