O vazio e o fora. Blanchot suspende. Trata-se daquele ínterim entre o provável consumável e a inconcebível execução. O ínterim através do qual a coisa empurra. Empurra para seguir vazio. Para colidir as vazões, para refestelar as vazões, no gozo da promessa que ninguém espera. É o ínterim sem começo e fim. Que avança por sobre os limites, e apesar deles. A morte que, inacabada, faz os outros. O desconhecido, o não subjetivo, o impessoal, a anonimidade. Isso porque Blanchot revê a vida reflexiva. O “eu reflexivo”; abre os rumores da vida anonimada. Nesse sentido, a morte é para ser vivida (como bem fez o sujeito do texto de Blanchot). Faz a criação da excrescência. A quase-morte que habilita a vida. A vida que dela (da morte em porvir) não passa ilesa. O desvanecimento que, como dito, implica, mobiliza, atua. Uma espécie de desvanecer contumaz. Que cria objetos, coisas, maneiras, suspeitas, corpos. A língua, a morte, e as sensações. Interessa, pois, o estudo da linguagem literária e da palavra em Blanchot. O que ele trata por “chave de um universo (...) onde nada do que ele (leitor e escritor) vive é reencontrado” (BLANCHOT, 1997, p, 81). A forjação da inexistência na palavra. A palavra que, efetivamente, cria a sua existência concreta mediante a experiência radical do estranhamento. Para tanto, abandonando certos princípios históricos e representativos, e interrompendo as codificações procedimentais que obriga, de certa forma à falência da palavra representativa. Escrever passa, com efeito, a ser um ato de estranhamento, a partir do qual somos recolocados ao mundo. Reavivados, “desdobrados”; feitos outros? Referências BLANCHOT, Maurice. A parte do fogo. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. BLANCHOT, Maurice. O instante da minha morte. Traduzido do francês por Fernanda Bernardo. Porto: Campo das Letras, 2003.

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