[A palavra e a prepotência]

[ Palavra é que nos sobra; sobra bem. Sobra para dar prazer. É aquela coisa que a gente cria - acerca do que não sabe. E não importa saber. Mas há quem entenda a palavra como a representação da realidade. É quando tu conversa com alguém e a interlocução parece trancada ou quando a conversa resta uma busca ineludível pela resolução da realidade das coisas. Sentir o gosto da palavra que vagueia; "as coisas da vida": a máxima que modifica a ambição da conversa. A vontade de demolição; a derrocada das realidades na zombação de suas caras feias. Suaviza-se a conversa. Poetiza-se a palavra. Ilumina, até mesmo com escuro, a vontade sobeja de real. Apresenta silhuetas das coisas que não sabemos que queremos, e por isso (justamente!), dizemos. Faz das coisas que se diz um trajeto inprevisível. Por isso somos perdulários. A gente usa as palavras e excede; e faz parte excede-las, exagerá-las. É tudo uma questão de intenção. Faço minhas as palavras grandes; as que movem luas, elidem, corrosivas, as "coisas da vida". Superbólicas, ou diletantismos pueris. Me falta transigência ao acordar o vazio rouco do baruho. São tão imensas as palavras que ficam por falar! Olha que coisa mais-linda.
Importa assim: não me cai o atributo de dizê-lo: me imbui da responsabilidade de honestamente afirmar com o que digo que, no exato instante que digo, continuo querendo dizer. Parece que não, mas simples é. Assumo que já me impaciento com dialogos narcisistas (pegar o outro de piso pra saltar pra onde já sei). Reconheço longinquamente a capacidade dos humanos de reafirmarem seus egos precipitando a palavra do outro em favor de acomodá-las ao próprio repertório (essas pessoas que sempre nos usam para dizer o que já sabem). Fato é, me dá aí o prazer de conversar? Conversar é criativo, mas nunca quando se usa a palavra para disputar a realidade. Assim, palavra obstrui. Conversar é fazer uma festa com o que nunca se soube].

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