arrouba a estética da velhice. dum olhar decrépito vindo de um fundo antigo. de perceber na cútis da palavra (eu sempre achei que a palavra tem pele) desidratada. tão longínquo. tão tardio. ouvir da fala rouca repetindo que ela já vem. é difícil não estar no presente. mais difícil não estar no projeto de presente que quermos à frente - futuro. e é difícil não creditar ao pretérito o gozo ou desgozo do presente ausente. se dizem que o único tempo verídico é o agora-aqui, que tempo vivemos quando pensamos o tempo? que presente é aquele que se vive quando se espera qualquer ato porvir (pergunto). o que não muda naquilo que muda (pergunto). o tempo é uma máquina de trituração. faz viver, e mata. mata o que nos parece tão fresco. faz a dor, e mata. porque a morte está grávida da vida. a morte faz a vida acontecer. verídica. faustosa. pujante. tempo é o intervalinho da morte. que espreme o corpo contra os muros pra pressionar nosso pavoroso afã de eternidade.

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