Para viver as escrileituras do gênio não-original

#Escrileituras #1 a #7 Eu me chamo Dayana Uchaki de Matos. Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser – se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele. Foi assim que você pensou que eu ficaria no mundo. Usando um lápis pousado na orelha. Usando flores em meu cabelo. Sempre escondidas no emaranhado do caos. Só você sabia quantas flores eu usava porque agora sei que você dedicava as noites às contagens. Deus não dorme e você também não O poeta é um fingidor. Sou uma voz, o ar veloz ao meu redor, as ondas, esse tipo de pessoa. O silêncio me faz abrir os olhos outra vez. Os vapores de Baco ofuscam a razão. Até meus risos foram definitivamente substituindo minha delicadeza impossível. Mas se eu fizesse alguma acusação contra Deus, seria uma das primeiras testemunhas que eu chamaria para depor. O lugar que me traz é algo extraordinária: o lugar do poeta na sociedade proletária. Sem dúvida, essas palavras ajudam a esclarecer por que Maiakóvski foi o único poeta russo que despertou meu interesse ou me foi de alguma relevância. O amor desvairado, tornado mundo ou tornado terra, a arrasadora saga futurista, descompassado com a dureza do imaginário tempestivo; de repente, todas essas ideias pareciam ter a ousadia necessária para tratar da vida, cuidar de um tempo. A palavra e o amor nos explicam as ausências profundas da civilização ocidental ou apenas a verdade de como a poesia é e nem sempre deveria ser? Fico escandalizada ao supor que passei dias cogitando responder perguntas incompreensíveis e balbuciantes. Em virtude de toda zeladoria malfadada das artes, eu me encontrei à deriva numa atmosfera mouca e anti-poética. No lugar de uma clausura, precisamos de uma varanda. Mas até uma varanda parece estrita demais. Eu não quero um modelo para a minha rosnada. Nenhuma das duas está à altura; nenhuma das duas é suficiente. Você, que lê este texto, só ainda vive porque alguém, na forma de muitos, oxigenou a história. Perante tal fato, Maiakovski sustenta a posição relativamente incontornável de que devemos tudo a essas pessoas (geralmente mulheres, as amadas, mas nem sempre). Mas também devemos a nós “a aceitação revolucionária do fato de que, para o júbilo o planeta está imaturo”. Por “imaturo” Maiakóvski quer dizer comezinho com o impossível. Sobre isto, ou sobre o quê, o amor de Lilia o fez equilibrar um poema à queima roupa. Maiakóvski ressuscita para a palavra a rejuvenescer.

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